Autárquicas 2021 | Mafra – Entrevista com Cátia Almeida [CDU]

 

Jornal de Mafra – Este ano há três mulheres a concorrer à presidência da Câmara de Mafra, predominando a juventude e as primeiras experiências eleitorais. Quem é Cátia almeida?
Cátia Almeida – Tenho 38 anos, nasci em Lisboa e aos 17 anos integrei a JCP [Juventude Comunista Portuguesa], foi quando comecei a trabalhar no partido.

Durante quatro anos fui para Setúbal fazer a minha licenciatura, sou professora do 1.º ciclo do ensino básico. Quando regressei retomei o trabalho no partido.

Jornal de Mafra – Leciona aqui no concelho de Mafra?
Cátia Almeida – Durante dois anos dei aulas no concelho de Mafra, mas atualmente trabalho em Loures.

Jornal de Mafra – Como está a educação no concelho de Mafra?
Cátia Almeida-
Em termos de instalações temos escolas boas e modernas, é um facto, ainda assim, poderíamos melhorar a nível de projetos. Uma das nossas apostas passa pelo reforço da educação física e da natação, que está contemplado no currículo, mas que ainda não foi inteiramente explorado.

Quando trabalhei no concelho de Mafra, lecionei na escola da Venda do Pinheiro e as minhas turmas tinham natação, porque a escola está mesmo ao lado das piscinas municipais, creio que seria ótimo que isto se alargasse a todos os alunos do concelho.

Jornal de Mafra – Que propostas tem a CDU para o próximo mandato autárquico?
Cátia Almeida-
Para além do reforço da educação física e do desporto, também o ambiente deve merecer maior atenção, envolvendo as crianças das escolas. Algumas escolas já são eco-escolas, é certo, mas defendemos um aprofundamento do trabalho a este nível, nomeadamente, no que diz respeito à reciclagem e ao reaproveitamento.

Também é necessário um maior desenvolvimento das expressões, por exemplo, a música e o teatro.

Jornal de Mafra – Como está o ensino da língua portuguesa e da matemática? Continuam a ser o calcanhar de Aquiles dos alunos?
Cátia Almeida-
Considero que as coisas estão melhores a esse nível. A minha experiência mais recente foca-se em alunos cuja língua materna não é o português, mas a verdade é que temos de continuar a trabalhar essas áreas, embora deva frisar que essas são reformas que dependem do governo central, mas há que rever as competências a desenvolver nas crianças.

Jornal de Mafra – Qual é a posição da CDU Mafra relativamente à descentralização de competências centrais para as autarquias?
Cátia Almeida-
É preocupante, porque pode começar a criar desigualdades, prejudicando a universalidade do ensino e discriminando os concelhos que tenham menos recursos. Levantam-se também problemas na contratação de professores, onde se verificam algumas injustiças, porque vamos colocar quem? O processo é autónomo, vou colocar quem eu conheço? Respeitam-se as graduações, ou não?

O objetivo é recuperar vereação, colocar pelo menos um vereador

No que diz respeito aos alunos, desde que haja igualdade e justiça e desde que ninguém fique a perder…

Jornal de Mafra – Candidata-se pela CDU, que congrega o PCP e os Verdes. Ficamos sempre sem saber quanto vale eleitoralmente cada um dos partidos nas autarquias.
Cátia Almeida – Não é nossa intenção fazer essa distinção, nós pretendemos aproveitar a riqueza de cada um, as características de cada um, neste caso, a defesa ambiental por parte dos Verdes e eles com certeza aproveitarão também coisas nossas. De resto, nós concorremos como coligação.

Jornal de Mafra – Quais são os três principais problemas do concelho e quais são as soluções propostas pela CDU?
Cátia Almeida – Desde logo há que referir o elevadíssimo IMI que temos aqui em Mafra, sendo intenção da CDU reduzi-lo e também é necessário reduzir o preço da fatura da água. Por outro lado, pensando nas crianças, é necessário criar uma rede pública de creches e de berçários.

Chamamos também a atenção para o facto de haver estradas no concelho, que embora sendo perigosíssimas, embora não tenham segurança e estando ao abandono, como se situam em locais mais isolados, com pouca visibilidade pública, estão esquecidas.

Jornal de Mafra – Reduzir o IMI e o preço da água implica compensar essa perda de recursos financeiros, como faria isso?
Cátia Almeida – 
Isso é uma questão de gestão, exatamente como fazemos na nossa casa, com o nosso orçamento. Temos de ter em conta as nossas prioridades, tenho de avaliar se há necessidade de continuar a pedir aos contribuintes esse esforço fiscal, é uma questão de prioridades, quando sabemos que no concelho existem famílias que não têm rede de esgotos, mas depois temos nos centros urbanos do concelho, jardins que fazem muita vista e até parece que se fez uma grande obra.

Há que fazer opções, volto às creches que não há no concelho, todas as famílias podem deixar os seus filhos nas creches, em segurança, para poderem ir trabalhar? A resposta é não, entretanto construiu-se mais qualquer coisa, um jardim muito bonito, que ficou muito bem na fotografia.

Jornal de Mafra – Quais foram os momentos altos e os momentos baixos da gestão municipal da maioria no último período autárquico?
Cátia Almeida –
Realmente eles fizeram coisas boas, esta câmara fez coisas boas, não fizeram tudo mal.

O preço que os munícipes de Mafra pagam pela água e a taxa do IMI constituem claros momentos baixos desta gestão camarária, sobretudo se tivermos em conta a existência de famílias no concelho, que ainda não beneficiam de saneamento básico.

Não houve propriamente momentos altos ou baixos, tudo isto é um conjunto. É certo que o Palácio passou a ser património da humanidade.

Jornal de Mafra – Pelo menos em termos subjetivos, a CDU apoiou a municipalização da água, não poderia ter tentado um esforço maior de participação neste debate?
Cátia Almeida –
Isso fizemos sempre. No entanto, todos sabemos o peso que a CDU tem na Assembleia Municipal ou na câmara. Com a força que temos fazemos a pressão que é possível.

Somos os únicos que continuam a lutar pela redução do preço da água, mais nenhum partido se juntou a nós nesta luta.

Jornal de Mafra – A transparência e a luta contra a corrupção são prioridades da CDU nas autarquias e no concelho de Mafra? 
Cátia Almeida –
Com certeza, no concelho de Mafra e em todos os concelhos. De qualquer modo, nós sabemos que todos os mandatos se iniciam sempre com uma auditoria às contas.

Jornal de Mafra – Nestes últimos 4 anos a CDU tomou alguma iniciativa nesta área? O programa eleitoral da CDU propõe algumas medidas nesta área? 
Cátia Almeida –
As auditorias são acessíveis a todos os membros da assembleia e os concursos são públicos.

A CDU não é a favor da divulgação de dados pessoais e isso foi mostrado na Assembleia Municipal e em relação aos ajustes diretos, a mesma coisa

Jornal de Mafra – A divulgação dos dados pessoais de cidadãos afetados pela covid no concelho de Mafra, os critérios de atribuição de comodatos e os critérios de atribuição de contratos por ajuste direto têm sido alvo de pedidos de esclarecimento por parte da CDU?
Cátia almeida – Essas questões constituem uma preocupação da CDU, que tem pedido esclarecimentos, os quais têm sido prestados na Assembleia Municipal.

Jornal de Mafra – E qual é a visão da CDU nesta matéria?
Cátia almeida – A CDU não é a favor da divulgação de dados pessoais e isso foi mostrado na Assembleia Municipal e em relação aos ajustes diretos, a mesma coisa.

Na Assembleia Municipal e nas Assembleias de Freguesia, a CDU é o partido com mais intervenções, mas mais uma vez é a matemática, temos 2 eleitos na Assembleia e na Câmara não temos ninguém.

Jornal de Mafra – A propósito de matemática, a CDU tem perdido votos no concelho [2013- 3.514 votos/2017 – 1.957 votos] e perdeu o seu vereador. Porque é que isso ocorreu, a CDU Mafra já fez essa análise?
Cátia almeida – A nossa ideia é reverter isso e estamos confiantes que nas próximas eleições isso possa vir já a acontecer.

Jornal de Mafra – Na perspetiva da CDU a que se ficou a dever aquela significativa perda de votos?
Cátia almeida – Houve aqui uma altura em que se verificou algum desinteresse pela política, propiciado até mesmo pelo governo central.  Por outro lado, a abstenção tem sido altíssima, mas acredito que desde há 4 anos o interesse das pessoas pela política tem crescido, por isso, estamos confiantes que esses números possam mudar.

Jornal de Mafra – Os 2 novos partidos da ala direita do espetro político poderão alterar a correlação de forças em Mafra?
Cátia almeida –
Portugal saiu recentemente de uma crise e a história tem mostrado que depois das crises, se elevam forças mais extremistas e terá sido isso que aconteceu.

Espero que o surgimento destes 2 partidos tenha reflexo na correlação de forças no concelho, espero que divida a direita e que ela perca força.

Jornal de Mafra – Como olha para o estado da liberdade de imprensa no concelho de Mafra e para uma eventual falta de equidade dos poderes locais nas relações com os vários OCS do concelho.
Cátia almeida – Aquilo que vou dizer pode aplicar-se a Mafra e ao resto do país. Há liberdade de expressão, há, de facto já não temos censura como a que tínhamos há 40 ou 50 anos, mas penso que a censura está agora camuflada e isso vê-se no tempo de antena que se se dedica a cada candidato, o tempo que se dedica ao PCP e o tempo que se dedica ao PSD e ao PS não é claramente o mesmo, a nível nacional então, é à descarada e a nível regional, também.

Jornal de Mafra – Quais são os objetivos da CDU para esta eleição no concelho de Mafra?
Cátia almeida –
Temos dois objetivos principais. Construir uma vida melhor em Mafra e viver melhor em Mafra reduzindo o custo de vida no concelho. Quem reside em Mafra deve viver com qualidade, com tempo, logo com uma boa rede de transportes que chegue a todos os munícipes. O próprio passe intermodal, passe cujo preço pode baixar ainda mais, foi uma luta nossa durante 20 anos, mas o PSD usou-o depois como bandeira.

Mafra é muito bonita, tão bonita que eu própria, que não nasci cá, a escolhi para viver, mas quando cá vivemos começamos a aperceber-nos das falhas.

Jornal de Mafra – E qual é o objetivo da CDU para esta eleição, em termos de representatividade?
Cátia almeida –
Temos listas a todos os órgãos autárquicos e provamos nesta eleição, que a ideia que o PCP está envelhecido, não corresponde à realidade no caso de Mafra, uma vez que a média de idades dos candidatos da CDU à câmara é inferior a 40 anos.

É obvio que o objetivo é recuperar vereação, colocar pelo menos um vereador.

 

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